domingo, 31 de julho de 2011

Dia do orgasmo

Conta a crônica da mitologia corporativa que certo professor, ao iniciar palestra sobre o impacto da mágoa no coração do homem, teria pedido a seus alunos que tomassem as lisas folhas de papel ofício que jaziam sobre cada uma das mesas à sua frente e as amassassem bem. Assim o fizeram. Em seguida, o mestre solicitou que eles tentassem restaurar as folhas de papel à sua condição inicial, abrindo-as e esticando-as. Ficou então óbvio que as folhas jamais poderiam voltar a ser como antes. Ele, por conseguinte, arrematou: -“Assim é o coração humano.” O efeito da experiência na mente dos pupilos foi notável e impactante.
            Por uma dessas felizes coincidências descobri que hoje, 31 de julho, é o dia do orgasmo. Fui numa das redes sociais e anunciei: -“Hoje é o dia do orgasmo!” (Esses são dos melhores temas a se anunciarem nas redes sociais.) Seguiu-se uma avalanche de comentários. Alguém, abismado, queria saber quem teria criado tal “homenagem” ao clímax do prazer.
            O tal dia foi criando na Inglaterra por redes de sex shop. Elas teriam realizado pesquisas que revelaram que 80% das inglesas não têm orgasmo em suas relações. Pesquisas nacionais mostraram que 50% das brasileiras têm “problemas” orgasmáticos e que “12 milhões de nossos homens sofreriam de alguma disfunção sexual”. Justifica-se, assim, do ponto de vista médico, a criação do dia.
            Que 80% das inglesas não gozem não é assunto que nos interesse. Já os 50% de brasileiras que fingem são um problema de segurança nacional. Imaginem a dimensão da coisa: de cada duas mulheres, uma não goza nem que a vaca tussa. Se você, meu amigo, já esteve na cama com vinte mulheres saiba que dez delas já te esqueceram há muito, exceto a que se tornou amiga do peito. Vejam bem que não estou a incitar a que se conte o número de parceiras que se já teve. Eu sei que tem uns caras aí que são dados a esse esporte pouco romântico e chauvinista, mas o que digo me serve apenas como ponto de análise a ser apreciado na prática.
            Invertamos o gênero na berlinda. Quantos homens sexualmente ativos tem o país? Digamos que tenha 50 milhões, e não me perguntem por que escolhi esse número. (É o resultado de um rápido cálculo mental cujos métodos e parâmetros eu não confessaria nem ao médium depois de morto.) Então não seríamos 50 milhões; seríamos de fato 38 milhões, já que 12 milhões estão a viver tentando, e nada ou pouco conseguem.
            Ponhamos novamente o sexo frágil à berlinda. Digamos que haja também 50 milhões de mulheres sexualmente ativas. Dessas, 25 milhões são elegantes e cínicas fingidoras. Eis, em poucas palavras, uma visão geral e comedida de nossa tragédia nacional. Temos 37 milhões de frustrados sexuais e, quiçá, outro número enorme dentro deste, de punheteiros, siririqueiras, voyers, e tantos outros tipos alternativos de “sexo” que visam compensar o normal que lhes é impossível.
            Bem se vê a importância do dia 31 de julho como o dia do orgasmo. Uma multidão sem ele implora a que sejam lembrados, numa tênue esperança a que um dia venha compartilhar de seus benefícios.
            Não sei se fale sobre a relação de cada gênero com o orgasmo. Será que falo? Não falo... Vou falar só um pouquinho.
            É sabido que a mulher tem uma relação conflituosa secular com o orgasmo, e há povos que impõem a ela a própria mutilação para impedir que os tenha. Aos que duvidam sugiro Infidel – my life, da somali Ayaan Hirsi Ali, um contundente e impressionante relato de uma vida em busca da liberdade e, hoje, em fuga dos ainda vigentes opressores. Há de residir nesse conflito e opressão da mulher grande parte das causas de sua infelicidade sexual e escassez orgástica.
            Ao homem resta o artefato da necessidade de corresponder à expectativa do macho e garanhão, máquina incansável de sexo, exemplo de espécime que dá duas ou três sem tirar. É muita responsabilidade. Duas ou três sem tirar beira a insanidade fisiológica e a anormalidade patológica. É caso para internamento ou remoção da prótese.
            Assim, que tenham todos um excelente dia do orgasmo. Sem culpa e com benefícios para a saúde. O orgasmo não deve tornar o coração do homem (e da mulher) como o irremediável papel amarrotado que não se refaz; não deve ser fonte de sofrimento e dor. 

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